O Especial “Personagens de um Semestre Perdido” apresenta 11 peças-chave para os resultados do 2023.1 do Flamengo. A maior parte desse elenco decepcionou, mas alguns se salvaram e outros contam com nossa certeza de que ainda podem muito em breve ajudar a reverter o quadro de vexames históricos que machucou a Nação nos primeiros meses desta temporada.

Vim, vi… e perdi. A paráfrase da famosa citação de Júlio César (o imperador romano, não o goleiro do Flamengo) talvez seja a melhor maneira de resumir a curta passagem do português Vítor Pereira como técnico do Flamengo.

Em quatro meses à frente do time que assumiu como campeão da Libertadores com a melhor campanha da história da competição, Vítor Pereira perdeu. E perdeu muito. Jogos (o Flamengo foi o time da Série A com mais derrotas no período), títulos (três finais e três vice-campeonatos, além de uma traumática derrota na semifinal do Mundial) e respeito (conseguiu se tornar persona non grata para as duas maiores torcidas do Brasil).

Só não perdeu dinheiro: a estimativa é que o Flamengo tenha desembolsado R$ 15 milhões com a multa rescisória do técnico português, demitido após 18 jogos, com dez vitórias, um empate e sete derrotas.

Contratação mal explicada

A lógica por trás da contratação de Vítor Pereira segue mal explicada. A diretoria nunca esclareceu publicamente por que desistiu de renovar com Dorival Júnior após o presidente Rodolfo Landim afirmar que o técnico só não continuaria se não quisesse. Duas são as principais hipóteses. 

A primeira é que a diretoria tenha perdido a confiança no trabalho do técnico após a queda de desempenho na reta final da temporada. A segunda é que tentou obter dele uma garantia de que não aceitaria um convite para a seleção brasileira caso renovasse com o clube -e não conseguiu.

Fato é que a seleção continua sem técnico até hoje e Dorival teve no São Paulo um início bem mais animador que o de Vítor Pereira no Flamengo. Embora, é claro, não seja possível afirmar que ele teria sucesso no Flamengo caso tivesse ficado.

Certo é que ao optar por trocar de técnico, a diretoria de cara praticamente abriu mão do título mais importante da temporada. Vítor Pereira teve só 35 dias de trabalho com o elenco e cinco jogos oficiais antes da estreia no terceiro Mundial da história do Flamengo. O resultado não podia ser pior: uma derrota que acabou com o sonho do bi Mundial antes mesmo da final.

Polêmica decisão

A escolha específica por Vítor Pereira também não foi isenta de polêmica. O técnico não conquistou títulos no Corinthians – na verdade, não ganhava nada desde a passagem pela China, em 2018. Mas consolidou-se a impressão de que havia vencido o duelo tático com Dorival na final da Copa do Brasil apesar da derrota nos pênaltis. E também que tinha “tirado leite de pedra” no Corinthians.

A imprensa paulista não se conformou com a decisão do português de aceitar a proposta do Flamengo mesmo após recusar a proposta de renovação do Corinthians sob a alegação de que iria cuidar da saúde da sogra. Ele, porém, não conseguiu aproveitar a consequente boa vontade da torcida do Flamengo com o chilique do outro lado da Dutra.

Vitor Pereira observando time do Flamengo na final do Carioca; analista tático da ESPN defende demissão do treinador
Lógica por trás da contratação de Vítor Pereira segue mal explicada. Foto: Divulgação / Flamengo

Embora não tenha conseguido fazer o Flamengo jogar bem nem uma partida inteira, Vítor Pereira foi mantido no cargo mesmo após perder a Recopa num Maracanã lotado com uma polêmica substituição de Pedro por Matheusão na prorrogação e de conseguir perder a Taça Guanabara mesmo precisando de só um empate nas duas últimas partidas, contra Vasco e Fluminense.

Duas vitórias contra o Vasco na semifinal do Carioca e o 2×0 sobre o Fluminense no jogo de ida da final do Carioca pareciam ter dado sobrevida ao português. Mas ele ainda tinha mais vexames guardados na cartola.

Derrota na Libertadores e vexame na final do Carioca

Mesmo com a vantagem de dois gols no Carioca, Vítor Pereira optou por priorizar o torneio e deixar a estreia na Libertadores em segundo plano. Pagou com uma derrota para o Aucas, time pequeno estreante na competição com um centroavante com físico de jogador aposentado de várzea, a primeira do Flamengo em tempo normal na competição desde 2020 – lembrando, o time foi campeão invicto com apenas um empate em 2022 e perdeu a final de 2021 para o Palmeiras na prorrogação.

O tropeço talvez tivesse sido esquecido se não fosse sucedido por um dos maiores vexames da História do Flamengo. Jogando podendo até perder por um gol, o Flamengo levou quatro do Fluminense – e marcou apenas um. Foi o primeiro título da carreira de Fernando Diniz e o último jogo de Vítor Pereira pelo Flamengo.

Menos de dois meses depois, o Flamengo passou pelo Fluminense na Copa do Brasil sem tomar gols em duas partidas. Sob a batuta do sucessor de Vítor Pereira, Jorge Sampaoli, o time emendou uma série invicta e está na briga pelos três títulos da temporada. Já Vítor Pereira ainda não assumiu nenhum outro clube, embora já tenha tido seu nome ventilado em algumas equipes do mundo árabe.

Se a sua curta e fracassada passagem será uma nota de rodapé na história de um Flamengo vencedor ou a primeira parte do pior ano desde 2019, só o segundo semestre irá dizer.

Passei do Corinthians para o Flamengo, um clube com 40 e tal milhões [de torcedores], outro clube com 50 e poucos milhões. É muito milhão junto, com algumas guerras também no meio, e sinceramente não foi fácil. Também descansei muito pouco de um projeto para o outro e paguei um pouco a fatura. Aliás, ainda estou pagando um pouco a fatura.

Vitor Pereira

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